terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Hitler Venceu

Hanka Nogueira


Como justificar o injustificável? Esse é o questionamento que me vem quando penso nos últimos ataques do Estado de Israel a Palestina. Lembro a minha infância e as noticias do conflito na tv. Meu pai assistia preocupado as noticias da chamada Terra Santa. Nessa época ouvi de alguém o seguinte comentário: Onde Jesus derramou o seu sangue nunca existira paz. Profecias a parte, a Historia do conflito envolve muito mais que supostas maldições religiosas. Basicamente estamos falando do controle do território. Esse mesmo, envolve os interesses estratégicos dos Estados Unidos no Oriente até as aspirações colonizadoras judaicas. O certo é que a cada noticia da continuidade do genocídio do povo palestino, o sentimento que cresce é de profunda tristeza e revolta. A superioridade militar israelense e o seu uso desproporcional e indiscriminado não escondem as intenções do governo de Israel. Dizimar os palestinos

Abraão, terra e água – Segundo o Velho Testamento judeus e palestinos seriam irmãos. Filhos de Abraão, mas, de mães diferentes. Da união de Abraão com Sara nasceu Isaac que seria o ancestral do povo judeu. Antes do nascimento de Isaac Abraão teve um filho com Hagar, uma escrava egípcia (egípcia, portanto negra), nascendo Ismael, ancestral do povo árabe. Sendo filho “ilegítimo” e após o nascimento de Isaac, Ismael e Hagar não mais encontraram lugar na casa de Abraão e saíram peregrinando pelo deserto. Essa historia bíblica aparentemente inofensiva serve como estopim para essa guerra fratricida. Não existe nada mais inflamável para se começar uma guerra do que a religião. E no oriente médio isso é levado ao extremo pelos ortodoxos de ambos os lados.

Em 1947, a ONU com as bênçãos dos Estados Unidos, aprova a partilha da palestina com a fundação de um Estado judeu e outro árabe. Mas, após um ano os judeus declaram independência e partem para a ofensiva atacando paises árabes que não concordaram com a “partilha”. A consequência foi que milhares de palestinos se tornaram refugiados. Vinte anos apos a primeira ofensiva judia, os assentamentos começaram e ser construídos se tomando áreas que antes eram destinadas aos palestinos. Dos assentamentos a construção do muro da vergonha, que segundo o Estado judaico é para segurança deles, demonstra o posicionamento intolerante e desrespeitoso com qualquer convenção de direitos humanos por parte do povo judeu, e deixando claro o objetivo de dizimar do povo palestino.

O muro corta as terras palestinas tomando áreas de produção agrícolas e garantindo para Israel importantes lençóis freáticos de água potável, desta forma, a economia do povo palestino, já combalida pelos anos de guerra e perseguição judaica inclusive encabeçando um boicote a Palestina, se torna inviável. Dentro dessa realidade o que pode fazer o povo palestino a não ser lançar mão de artifícios de guerra como: pau, pedra, estilingue e a sua mais moderna arma: os Qassans, que são foguete caseiro de pequeno poder de ação. . Tudo isso diante de uma super potencia que possui desde os mais modernos tanques e helicópteros de guerra até a bomba atômica. Daí aos palestinos virarem mulher e homem bomba é a demonstração clara do desespero e da falta de perspectiva de um povo inteiro.

Auschwitz, bantustões e guetos - O Estado de Israel não é exemplo para ninguém. Depois de 61 anos após a fundação, o mesmo povo perseguido durante a Segunda Guerra Mundial, persegue. Transformou a palestina em um enorme campo de concentração e o povo muçulmano que mora lá, em terroristas insanos, como afirma a mídia que em grande parte os judeus controlam. Homens, mulheres e crianças, em seres miseráveis sem perspectiva nem possibilidade de vida digna. Vitimas de um acerto estratégico da historia moderna, e que se apóiam em grupos radicais que facilmente tem o seu nome aliado ao medo e ao caos, e tentam em vão, pelo menos pelo viés da força, conseguir a liberdade de existir. A própria Israel, que esta muito longe do que imaginou Deus, quando falou ao patriarca Abraão da terra prometida que minava leite e mel. Foi transformada, por eles, em um país mais parecido com um condomínio fechado cheio de grades. Sem falar nos guetos. Sim, guetos, onde grupos étnicos menores são discriminados por não serem judeus puros (puros?) isso lembra alguma coisa? Pois é. Mas, a mídia não mostra o “espetáculo” do conflito por esse ângulo e sim pela visão do eterno judeu perseguido nos campos de concentração, vitimas da historia oficiosa e do drama do povo “escolhido” por Deus. Hitler venceu. E vive. Representado pelos ortodoxos e políticos do Estado judeu.

Hanka Nogueira

Luz e Força

sábado, 13 de dezembro de 2008

Dom Casmurro e o Homem Brasileiro

Hanka Nogueira

Sem querer fazer uma avaliação técnica da produção machadiana, resolvi escrever esse pequeno texto sobre as minhas impressões da obra que virou microsserie na TV: DOM CASMURRO (Capitu). Ainda que essa não seja a minha predileta do autor, mas, sem duvida, a mais comentada e lida. E é justamente sobre isso que escrevo. Sobre a repercussão da duvida de Bentinho, e a sua nada acidental aparência com o típico homem brasileiro: Machista, sexista e possessivo. Afinal de contas, o célebre escritor Machado de Assis com o seu historicismo sociológico, transcreveu para a sua obra a psicologia do Brasil escravista e patriarcal, ainda que, enganosamente o acusem de não ter tocado na questão escravista, os contos: Pai contra Mãe e Bondade dos Brancos (esse escrito seis dias após a abolição), denunciam o contrario. Penso que, o Brasil de hoje tem muitos resquícios da colônia que foi, e dessa época, mantem as suas relações de poder e hierarquia baseada em estigmas raciais e sociais. Na referida obra a questão da mulher e das relações de poder em que se baseavam os casamentos de outrora, nos são jogadas de forma bem sucinta pelo autor e o seu Dom Casmurro, que se mostra, ainda hoje, um típico e cultural homem brasileiro.

Hormônio e Cultura – ”Capitu era mais mulher do que eu era Homem”. Com essa afirmação a celebre personagem de Machado de Assis (Bentinho), resume a sua pequenez frente àquela mulher que ainda era uma menina. Sim, uma menina, mas, que também já era uma mulher. Sem querer ser redundante nem prolixo, mas ser mulher e menina é algo completamente normal para esse “bicho”. Quem nunca reparou na diferença existente entre um garoto de 14 anos e uma menina da mesma idade. Essa, um projeto da mulher que um dia será ou é. Aquele, um ser perdido entre os seus hormônios que mal consegue compreender o seu corpo, nem ao menos domar a sua voz que altera entre o grave e agudo a cada frase. Se pensam, que estou aqui querendo justificar de forma biológica o amadurecimento “prematuro” da mulher frente ao homem, acertou! É isso e assumo. Elas saem na frente, e se não avançam mais, é graças a cultura castradora que possuímos, fruto da nossa formação portuguesa judaico-cristã, onde a construção do sentimento de culpa como castigo, é um instrumento de controle e submissão. O mesmo castigo “divino” dado a Eva, a primeira a ser penalizada por ousar se libertar, recebeu a dor como maldição e foi a responsável por passá-la adiante. Isso nos é passado por homens e mulheres.

A Patologia do Ciúmes – Dom Casmurro (ele, Bentinho, assim chamado numa alusão a sisudo, carrancudo, triste), é uma obra no mínimo curiosa. Afinal, quem poderia imaginar que cem anos após o lançamento do livro, ainda hoje, se reúnam para saber se Capitu traiu ou não Bentinho (acreditem, existem grupos que se reúnem para isso). A psicologia das personagens principais: Bentinho, Capitu e Escobar, são debatidas e pensadas na maioria das vezes dentro de uma só ótica. Capitu traiu ou não Bentinho? Foi Capitu, ou não, a responsável pelo fim trágico do suposto triangulo? Teorias a parte, percebo que a obra nos oferece uma perspectiva rica em fatos que evidenciam a patologia do ciúme como pano de fundo, principal e motivadora de toda a trama. Bentinho é um fraco, submisso as vontades da mãe, inseguro, e que precisa de uma justificativa para se colocar em um plano superior a mulher que julga ser sua. Essa mesma doença é responsável pela maioria dos assassinatos cometidos por “homens” contra mulheres em nossa sociedade. Os “motivos” são vários, ou os mesmos: separação, rompimento de namoro, ou um basta nos maus tratos sofridos por parte do “companheiro”. A fantástica trama escrita em 1900, hoje, certamente renderia a Machado de Assis alguns elementos mais tristes. Ainda que as mulheres tenham avançado em suas conquistas (mulheres não negras principalmente), continuam a sofrer com o machismo e sentimento de posse por parte de alguns homens desequilibrados. Elas, buscam a realização profissional, liberdade e o exercício da sua completude natural de mãe. Eles, o exercício do poder pela posse e submissão do outro por meio da força. As mulheres querem ser justas. Eles querem ser juizes e ao mesmo tempo algozes.


Hanka Nogueira


Luz e Força

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

O PODER É NEGRO (com trocadilho, por favor)

Hanka Nogueira


Brown - Reservei-me o direito de escrever sobre a eleição do Obama depois da poeira assentar. Obama-mania a parte, em meio a tantos textos uma coisa me chamou a atenção: O foco demasiadamente simplista dos artigos e das matérias ditas jornalísticas, onde a questão da cor da pele do presidente é colocada sobre todas as outras. A impressão passada foi que a questão black/white norte-americana foi suplantada para o mundo. O próprio Obama preferiu correr as léguas do perrengue, (Jessé Jackson já tinha provado do gosto amargo da questão quando pré-candidato democrata em 1984 e 1988) Ele mesmo, o Obama, Se disse mulato. Sim, mulato. Claro que a palavra usada não foi essa e sim marrom, ele lembrou a todos ser filho de uma branca com um negro, e por desconhecimento do termo mulato ficou com o brown mesmo.

A primeira vez em que ouvir falar em Obama foi durante as eleições de 2000, na época o vice-presidente norte americano Al Gore, era o então candidato dos democratas para concorrer a vaga na Casa Branca. Durante a campanha de Gore em Seattle o então senador de IIIinois subiu ao palco em meio ao frisson encabeçado por afro militantes de peso: Spike Lee, Oprah Winfrey e Jesse Jackson, na ocasião um jornalista entrevistou Spike Lee que afirmou: Ele vai ser o futuro presidente dos Estados Unidos. Fora a empolgação dos afro militantes, o que me chamou a atenção foi a figura do Barack Obama. A figura esguia era sedutora, elegante e mesmo que eu não entenda nada em inglês, reparei que tinha uma retórica que empolgava a platéia em sua maioria composta por brancos. A imagem ficou guardada.

Bufa republicana - Muito se escreve sobre a eleição do presidente, mas, a maioria não foca o que realmente importa nesse momento de crise mundial encabeçada pelo Tio Sam. O exercício do poder. E se tratando de presidente norte americano esse deveria ser o maior foco e preocupação. Não há como negar que do ponto de vista simbólico a eleição de Obama é de uma força sem precedente, mas, também não podemos esquecer da sua necessidade de “salvar” a economia do país e de manter a sua colocação de mandante no mundo, principalmente depois da passagem desastrosa da bucha ou bufa republicana, como preferir, pela Casa Branca nos últimos oito anos.

Há quem diga que a eleição de obama é fruto das Políticas de Ações Afirmativas implementada nos Estados Unidos desde a década de 60. Extremamente exagerada essa afirmação. Mesmo após 40 anos de ações afirmativas existem mais afro-estadunidenses nas penitenciarias que nas universidades. A própria historia do Obama descarta essa idéia. Ele me parece mais um “imigrante legal” (filho de uma americana branca com um queniano, nascido no estado do Havaí, morando na islâmica Indonésia até os 10 anos, voltando aos 11 para os Estados Unidos, criado numa família branca classe media), que um afro estadunidense típico como a sua mulher. Essa sim, militante e fruto das ações afirmativas norte-americanas.

Bling-bling - Quanto ao poder dos afro-estadunidenses 12,8 % da população, portanto, a menor minoria entre as minorias, exercem uma maior influencia cultural que política, principalmente fora do país. Afinal, a cultura mundial pop é fruto da arte negra norte-americana. Essa influencia vem desde o jazz, blue, rock, passando pelo fenômeno Michael Jackson (esse com Triler transformou o pensamento de Andy Warhol em realidade: a cultura pop em um produto real, consumista, descartável, global). Até o movimento hip hop, que já se perdeu faz tempo, afinal de contas, o estilo bling-bling (possuir carrões, diamantes, iates, jatinhos, mulheres, tudo no plural mesmo), faz parte do american way or life das estrelas de rap e seus seguidores pelo mundo. Exibir faustosamente suas jóias, usar notas de cem dólares para acender charutos Cohiba, enquanto atiram as de menor valor na cara das mulheres, como se as mesmas fossem pedaços de carne, demonstra definitivamente, que o protesto do gueto virou um produto do capitalismo predatório norte americano.

O cara tem sorte - Ainda que a sua história e até o seu nome não ajudasse (Barack Hussein Obama II), em um país que possui uma sociedade racialista e belicista como a americana, ele chegou lá. Em parte pelo seu potencial intelectual e a sua capacidade de sedução. Mas, não podemos negar o sentimento de insatisfação da maioria do povo norte-americano com a política republicana atual. Até a sua chegada ao Senado de IIIinois, a historia política de Obama foi marcada por “trapalhadas” republicanas e democratas: em 2004, concorreu nas primarias com o outro candidato democrata Blair Hull, esse caiu fora após escândalo de violência domestica que o envolvia. Após ser escolhido pelos democratas concorreu com o então candidato republicano Jack Ryan, durante a campanha Ryan foi implicado por causa de um escândalo sexual (foi acusado de levar a sua mulher a um clube de sexo), aí já viu, caiu fora também, Obama torna-se Senador. De 2004 para 2008 foi um pulo. Não foi a cor do presidente que deflagrou o processo de escolha e sim a fragilidade do país frente a outras nações emergentes (entenda-se China), e o fortalecimento econômico e geopolítico da Europa, entre outras questões não raciais. Sem falar nos vinte dias anteriores ao pleito, quando explodiu a crise econômica norte americana enterrando de vez a candidatura do Jonh McCain, levando Bush a sair da Casa Branca (e da Historia), por onde entrou. Pela porta dos fundos.

Para alem da cor - O filosofo Foucault em A Vontade de Saber. Diz: “Onde existe poder, existe resistência”. As questões a serem debatidas e trabalhadas pelo Obama não somente em relação a política interna de seu pais, mas ,principalmente externa, é que vão talvez aproxima-lo do patamar de um Mandela ( Esse, o maior estadista vivo da História) Questões referente a: aliados estratégicos, imposição econômica, meio ambiente e protecionismo, vão dominar sua agenda. A tirar pela parte de sua recém anunciada equipe de governo, parece que não ficara muito longe das velhas praticas imperialistas, o que demonstra que independe da cor da pele a mudança a ser feita, e sim, o exercício do poder por parte de quem o possui. Esse sim, o ponto a ser pensado e debatido muito antes de deseja-lo, seja por negros, brancos ou mulatos. Mas, contudo, continuo a comemorar a eleição do Obama e pretendo faze-lo por muito mais tempo, em parte só depende dele, afinal de contas, como o Luther King eu também tenho um sonho.


Hanka Nogueira


Luz e Força