quinta-feira, 21 de janeiro de 2010




Ambientalismo Social
Perspectivas e Ações para a Sociedade Brasileira no Séc. XXI

Por: Hanka Nogueira


O tempo somente é porque algo acontece, e onde algo acontece o tempo está (Milton Santos, em A Natureza do Espaço. Técnica e Tempo. Razão e Emoção)


A maioria absoluta da população brasileira encontra-se distante da compreensão real do que venha a ser sustentabilidade. Distanciada da efetividade da sua realização diária graças a inexistência de uma visão multidimensional da realidade por parte do ambientalismo contemporâneo. Fruto da falta de um projeto revolucionário em sua prática, que atente para a diversidade social, para o multiculturalismo, para a pluralidade de necessidades existente no meio ambiente social. Só poderemos avançar englobando conceitos e práticas que condizem realmente com o cotidiano. Como dizia Milton Santos: “A História do homem sobre a terra é a História de uma ruptura progressiva entre o homem e o entorno”. Portanto, é preciso ver esse homem em sua dimensão histórica, cultural, econômica, jurídica, política, tecnológica, suas especificidades e seu cotidiano. Desta forma, faremos emergir as ferramentas de combate a exclusão da maioria que se encontra concentrada em um território degradado, onde pobres de todas as naturezas lutam contra todas as impossibilidades. Lutam para existir O processo de poluição das águas, a geração de resíduos poluentes, a poluição sonora, a destruição do que resta da mata atlântica, caminham na mesma velocidade em que ocorre a degradação da instituição familiar, da falta de perspectiva do mercado de trabalho, da violência urbana que leva corpos a tombarem indiscriminadamente nas periferias. O discurso falso realista e ideologizado de uma gama de ecologistas descartam os seres humanos que mais necessitam de ações sustentáveis e inovadoras. Não existe e teimam em não criar propostas de mudança ouvindo os que sempre foram apartados do processo político e administrativo do Estado. Todavia, o mundo, expresso desigualmente, não tem como regular os lugares em suas diversidades e, por conseqüência, a democracia e a sustentabilidade sem ouvir a massa, os despossuidos, carentes de voz e principalmente de prática. Chega de discurso vazio, cujo único objetivo é a captura da memória e posteriormente a sua dominação.

O ambientalismo e a democracia como é apresentada, parte do principio cujo homem é apenas consumidor, pois a cidadania depende de sua generalização. Não existem cidadãos num mundo apartado. Não se é cidadão em um espaço onde todos não o são. São consumidores os que expressam direitos e deveres no âmbito do mercado e não no âmbito do espaço público, onde a política é realizada e o poder distribuído. Dito isto, este é um mundo de alguns consumidores e poucos, pouquíssimos cidadãos. É preciso construir a cidadania atrelada a consciência ambiental. A pobreza e a desigualdade são produtos da forma de produção do modo civilizatório capitalista. Este “novo” processo econômico que vivemos apresenta diferentes faces da mesma moeda. Tudo isto como conseqüência da desestruturação da democracia do Estado travestida em liberdade para poucos. O atual período histórico não é apenas a continuação ideológica do capitalismo ocidental, é mais. Melhor, é muito mais, é a transição para uma nova civilização. Esta transição que está em curso é preocupante para grande parcela da sociedade, desprotegida não somente nos seus recursos naturais, mas, na sua impossibilidade de Ser ecologicamente inteiro, completo, socialmente equânime e diverso. Esta nova sociedade por se criar, pode e deve, inclusive, abrir uma nova época com a colocação de um novo paradigma social.

O conceito de identidade ecológica parte do principio do pertencimento; do reconhecimento do eu ecológico a partir do processo de conscientização do que se é, ou seja, o homem como parte intrínseca da natureza de forma una e indivisível. Para tanto, se faz necessário deselitizar as idéias a cerca do que venha a ser meio ambiente, aproximando todos os seguimentos da nossa complexa sociedade, tornando-os o que se é. Partindo-se desse principio para a construção coletiva do que chamo de ecologia cultural, conceito então, contrario ao de formação da cultura ecológica tão disseminada pelos meios de comunicação em mensagens vazias de significados e pertencimentos, o que a torna pouco sedutora e eficaz. A ecologia cultural parte do principio do reconhecimento da condição primária do ser enquanto natureza, em sua forma individual e essencial a sua sobrevivência. O ato de respirar, se alimentar e de todo o ciclo necessário a manutenção da vida em cada ser humano é um processo sem retorno nem escolha, e para tanto não podemos fazê-lo sem o outro, ou melhor, sem o meio. Ai sim, a ecologia cultural se manifesta e é reconhecida independente de classe social, racial, gênero ou econômica. A coletividade é vivenciada como um processo natural, fruto do reconhecimento do eu coletivo. Este paradigma deve ser posto com princípios diferenciados e simples, onde homens, mulheres, crianças e velhos se apropriem da sua memória coletiva, de forma que os signos sejam disseminados e reconhecidos em comunidade, utilizando tecnologias sociais existentes no meio. Fruto do saber, criado e desenvolvido de forma horizontal, e não na verticalização antidemocrática praticada por uma minoria elitista e excludente. Devemos ousar e criar novos caminhos, novas possibilidades que combatam a anemia intelectual dos subservientes e acomodados. O novo nasce sem que se perceba. Quase na sombra, o mundo muda de maneira imperceptível, todavia constante. Neste início de século, temos a consciência de que estamos vivendo uma nova realidade. As transformações atuais colocam os homens em permanente estado de perplexidade e preocupação. A poluição e a desertificação se alastram, a super população e as epidemias tornam o mundo diverso negativamente. As mazelas sociais se acirram na mesma velocidade em que a inércia política nos faz acreditar na não possibilidade de mudança. É nesse panorama que juntos podemos construir um projeto de desenvolvimento real, dentro de novos conceitos, que traduzam as reais necessidades da população. Façamos.